Psicologia Transpessoal

Arquétipos – personagens da nossa alma
por Sílvia Rocha

“Há um deus ou uma deusa no âmago de cada complexo”
-          C. G. Jung
“A mais bela coisa que podemos sentir é o Mistério. Ele é a fonte de toda verdadeira arte e ciência.” – Albert Einstein

De onde vem nossas paixões, instintos, inspirações e desejos que nos movem na vida? Por que umas pessoas se atraem pelos mistérios da vida e outras para as explicações lógicas?
Jung denominou “arquétipo”  a uma dinâmica psicológica que ocorre na mente inconsciente. Suas expressões são  encontrados em sua forma mais pura na mitologia, em contos de fadas e na literatura, nos nossos sonhos e na nossa fantasia. Surgem nos personagens de filmes, novelas e propagandas. Os arquétipos são forças poderosas internas que podem ser personificados por deuses e deusas. Já os estereótipos são forças externas – papéis que a sociedade espera que as pessoas se adaptem.
Muitas vezes é causa de muita infelicidade o ser humano ser cobrado de exercer um papel para agradar o social quando sua motivação interior é outra, às vezes oposta. O que pode fazer sentido para um ser humano pode não fazer sentido para outro. As diferenças de personalidade podem ser explicadas pelos padrões de arquétipos que guiam o comportamento de cada um. Mas o que há em comum em todos é que existem dimensões míticas em cada  ser humano.
Uma deusa é um arquétipo feminino vivido pelas mulheres e também pelos homens através das mulheres pelos quais se relacionam. As deusas nos fazem conectar com o feminino, o divino, as emoções, a religião, os símbolos, as metáforas, a criatividade que pode estar reprimida devido a uma cultura racionalista e voltada a resultados. A linguagem científica é masculina e corresponde às funções do lado esquerdo de nosso cérebro. A linguagem das artes, das emoções está ligada às funções femininas do lado direito do cérebro.
Para a inteligência emocional torna-se fundamental o equilíbrio entre razão e emoção, entre o feminino e o masculino dentro de qualquer ser humano seja homem ou mulher.
Jung descreve um ser neurótico quando é fixado em apenas um aspecto de sua personalidade ( que está na luz ou na consciência) rejeitando o outro lado menos agradável (que então fica na sombra ou inconsciente). A civilização ocidental exacerbou a reverência ao arquétipo do pai e excluiu o arquétipo da mãe, desequilibrando nossa mente individual e coletiva, nosso corpo físico e a própria Terra.
O feminino nos devolve a ligação com a terra, com seus cuidados, ciclos e mistérios. Como qualquer pessoa que é excluída, as nossas partes esquecidas ficam magoadas e feridas. Precisamos resgatá-las e curá-las.  O feminino ferido, as emoções reprimidas precisam de espaço e de dedicação para um restabelecimento da saúde física, emocional e espiritual.
Os mitos provocam sentimentos e imaginação e tocam temas que a Humanidade se identifica. umanidade se identifHumanidade m     As estórias que são passadas por gerações, contos de fadas que resistem a três mil anos continuam relevantes pois são um eco à nossa experiência humana. Podemos até mesmo considerar os arquétipos como presenças espirituais e psicológicas que influenciam nossa vida e a nossa consciência.
“Mitos não vem de um sistema de conceitos; vem de um sistema de vida; vem de um núcleo mais profundo. O mito não aponta para um fato; o mito aponta além dos fatos, para alguma coisa que informa o fato.”- Joseph Campbell
A psicologia transpessoal é uma das mais novas disciplinas deste campo que funde a antiga sabedoria dos grandes sistemas espirituais do mundo (feminino) com o pragmatismo da ciência ocidental (masculino).
Para Jung a atitude religiosa, num sentido original da palavra religare – de conexão com o Todo, desempenha uma cura para os males da alma. A busca da  integração de todas as nossas partes ou personagens é o caminho para a saúde. Segundo ele, quando a multiplicidade de nossos personagens internos é negada se tornam doenças.
O guerreiro, o sábio, o curador, a sacerdotisa, a sensual, a intelectual, etc. que existem dentro de nós podem de uma forma criativa e original se integrar com consciência a  caminho da Unidade, por fim a conflitos internos restabelecendo a paz interior.