segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Gaia


Gaia é a matriz da maioria das culturas que denominamos indo-européias. Há, em todas as mitologias, a crença no “sagrado” na divindade da Terra, a “Grande-Mãe”. Na mitologia grega, Gaia (Géia) é a personificação divina da Terra (como elemento primitivo e latente de uma fecundidade devastadora e infindável). Segundo Hesíodo e sua Teogonia, ela é a segunda divindade primordial, nascendo após Caos e foi uma uma das primeiras habitantes do Olimpo. Como dissemos, sua potenciadade progenitora é tão intensa que, sem intervenção masculina, dá a luz a Urano (seu filho e esposo), às Montanhas e ao Mar. Casada com o Céu, a Terra gera também os Titãs e os Ciclopes. Absolutamente tudo que cai em seu ventre fértil ganha vida.Potência feminina:Livre de nascimento ou destruição, de tempo e espaço, de forma ou condição, é o Vazio. Do Vazio eterno, Gaia surgiu dançando e girando sobre si como uma esfera em rotação. Ela moldou as montanhas ao longo de Sua espinha e vales nos buracos de Sua pele. Um ritmo de morros e planícies seguia Seus contornos. De Sua quente umidade, Ela fez nascer um fluxo de chuva que alimentou a Sua superfície e trouxe vida.Criaturas sinuosas desovaram nas correntezas das piscinas naturais, enquanto pequenos filhotes verdes se lançaram através de seus poros. Ela encheu os oceanos e lagoas e fez os rios correrem através de profundos sulcos. Gaia observava suas plantas e animais crescerem. Então Ela trouxe à luz de Seu útero seis mulheres e seis homens.Os mortais prosperaram ao longo do tempo, mas estavam continuamente preocupados com seu futuro. No início, Gaia pensou que era uma espantosa excentricidade de sua parte, contudo, vendo que sua preocupação com o futuro consumia algumas de suas crianças, Ela inaugurou entre eles um oráculo. Nos morros do local chamado Delfos, Gaia fez brotar vapores de Seu mundo interior. Eles subiram por uma fenda nas rochas, envolvendo uma sacerdotisa. Gaia instruiu-a a entrar em transe e interpretar as mensagens que surgiam da escuridão de sua terra-útero. Os mortais viajavam longas distâncias para consultar o oráculo: Será o nascimento do meu filho auspicioso? Será nossa colheita recompensadora? Trará a caça suficiente comida? Conseguirá minha mãe sobreviver a sua doença? Gaia estava tão comovida com sua torrente de ansiedades, que trouxe outros prodígios ao futuro para Atenas e o Egeu.Incessantemente, a Mãe-Terra manifestou presentes em sua superfície e aceitou os mortos em seu corpo. Em retribuição ela era reverenciada por todos os mortais. Oferendas a Gaia de bolos e mel e cevada, eram deixados em pequenos buracos no chão à frente dos locais onde eram realizadas as colheitas. Muitos dos seus templos eram construídos próximo a pequenas fendas, onde anualmente os mortais ofereciam bolos doces através de seu útero, e do interior da escuridão do seu segredo, Gaia aceitava seus presentes.A separação do Céu e da TerraUrano, o senhor do Céu, temia de seus filhos o destronassem, de forma que prendia-os no Tártaro. Revoltada com essa ação mesquinha e cruel do esposo, Gaia decidiu armar um dos filhos, Kronos, com uma foice. No momento em que Urano fora unir-se à esposa, em um ciclo perene de criação, Cronos atacou-o e castrou-o, separando assim o Céu e a Terra. O filho lançou às aguás marinhas os testículos do pai… Ainda assim, algumas gotas do líquido gerador divino recaíram sobre Gaia, que fertilizada, concebeu as divindades Erínias (as Fúrias). Significado mitológico:Gaia, na mitologia clássica, personificava a origem do mundo, o triunfo e ordenamento do cosmos frente ao caos (ainda que sua fertilidade parecesse “caótica” devido a sua força primitiva). Manancial dos sonhos, a protetora da fecundidade é comumente relacionada à juventude.Gaia Ciência:O nome Gaia, ou Géia, é utilizado como prefixo para designar as diversas ciências relacionadas com o estudo do planeta. HáA mãe de todas as coisas uma teoria científica chamada “Teoria de Gaia” (1969) que empreende estudos relacionados a ramos da Biologia tais como a Ecologia e que afirma ser o planeta “um ser vivo”. Essa crença prevê a inter-relação dos organismos que manifestam-se em uma correlação infinita. Ainda segundo essa teoria, seria a própria Terra quem criaria suas condições de sobrevivência. Friedrich Nietzsche também se dedicou a Gaia em Gaia Ciência (1882). Nesse livro, há a presença constante do afã de conhecimento do mundo e a obra traz à luz a discussão sobre as Artes (o nome Gaia, nesse caso, é uma lembrança às origens da poesia provençal medieva e significa “feliz”). Fonte de “Potência Feminina”: http://www.geocities.com/eros_x111/t-gaia.htm

Hécate - a deusa feiticeira

por Junito Brandão
HÉCATE, em grego 'Ecath (Hekáte), que é o feminino de ecatos (hékatos), isto é, que “fere à distância, que “age como lhe apraz”, qualidade específica da grande deusa, sobre que se apóia especialmente Hesíodo na Teogonia, 425-43.5.

Deusa aparentada à Ártemis, não possui um mito próprio.
Profundamente misteriosa, age mais em função de seus atributos. Embora descenda dos Titãs e seja portanto independente dos deuses olímpicos, Zeus, todavia, lhe conservou os antigos privilégios e até mesmo os aumentou. Era princípio, uma deusa benéfica, que derrama sobre os
homens os seus favores, concedendo-lhes a prosperidade material, o dom da eloqüência nas assembléias, a vitória nas batalhas e nos jogos, a abundância de peixes aos pescadores. Faz
prosperar o rebanho ou o aniquila, a seu bel-prazer. É a deusa nutriz da juventude, em pé de igualdade com Apolo e Ártemis. Eis aí um retrato de Hécate na época mais antiga. Aos poucos, todavia, Hécate foi adquirindo características, atributos e especialização bem diferentes. Deusa ctônia, passou a ser considerada como divindade que preside à magia e aos encantamentos. Ligada ao mundo das sombras, aparece aos feiticeiros e às bruxas com uma tocha em cada mão ou ainda em forma de diferentes animais, como égua, loba, cadela, Tida e havida como a inventora da magia, o mito acabou por fazê-la penetrar na
família da bruxaria por excelência: Eetes, Círce e Medéia. É assim que tradições tardias fizeram-na mãe de Circe e, por conseguinte, tia de Medéia. Como mágica, Hécate preside às
encruzilhadas, local consagrado aos sortilégios. Não raro suas estátuas representam-na sob a forma de mulher com três corpos e três cabeças.

Hécate
é a deusa dos mortos, não como Perséfone, mas como divindade que preside às aparições de fantasmas e senhora malefícios. Empunhando duas tochas e seguida de éguas, lobas e cadelas é a senhora todo-poderosa invocada pelas bruxas. Seu poder terrível manifesta-se particularmente à noite, à luz bruxulante da Lua, com a qual se identifica. Deusa lunar e ctônia, está ligada aos ritos da fertilidade. Sua polaridade, no entanto, já foi acentuada: divindade benfazeja, preside à germinação e ao parto, protege a navegação, prodigaliza prosperidade, concede a eloqüência, a
vitória e guia para os caminhos órficos da purificação; era contrapartida, possui um aspecto terrível e infernal: é a deusa dos espectros e dos terrores noturnos, dos fantasmas e dos monstros apavorantes. Mágica por excelência, é a senhora da bruxaria. Só se pode esconjurá-la por meio de encantamentos, filtros de amor ou de morte. Sua representação com três corpos e três cabeças presta-se a interpretações simbólicas de diferentes níveis. Deusa da Lua pode representar-lhe três fases da evolução: crescente, minguante e lua nova, em correlação com às três fases da
evolução vital. Deusa ctônia, ela reúne os três níveis: o infernal, o telúrico e o celeste e, por isso mesmo, é cultuada nas encruzilhadas, porque cada decisão a se tomar num trívio postula não apenas uma direção horizontal na superfície da terra, mas antes e especialmente uma direção vertical para um ou para outro dos níveis de vida escolhidos.

A grande mágica das manifestações noturnas simbolizaria ainda o inconsciente, onde se agitam monstros, espectros e fantasmas. De um lado, o inferno vivo do psiquismo, de outro uma
imensa reserva de energias que se devem ordenar, como o caos se ordenou em cosmo pela força do espírito.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Mito da Jibóia - do povo Huni Kuin

desenho de Bane Sales

Mito da Jibóia, por Isaías
Sales Ibã Kaxinawá

“Um dia um índio foi caçar dentro da floresta, no caminho, na beira do lago
encontrou um pé de jenipapo. As frutas dão fartura e comida aos bichos da mata.
Ele parou de caminhar, tinha muito rastro de anta e veado. Pensou, e fez uma tocaia
para poder esperar a anta e o veado. Pensou, e fez uma tocaia para poder
esperar a anta e o veado. Fez uma casa de pequena de palha de jarina bem
fechada. Entrou na tocaia e ficou esperando os animais. Nada de chegar o veado
(txashu) e a anta (awa). Ficou aperreado, sentiu sono e dormiu dentro de sua
tocaia. De repente ouviu um barulho, levantou-se para ver o que era. Viu uma
anta (awa) procurando jenipapo. Pegou três frutas de jenipapo e foi descendo
devagarzinho na beira do lago.
O homem da tocaia começou a prestar atenção no segredo da anta, o que ela estava
fazendo. A anta ficou na beira do lago jogou as frutas de jenipapo, para baixo,
pra cima e no meio. A anta (awa) ficou esperando e logo começou a sair muita
espuma no meio do lago, no meio da espuma, ela boiou: era uma mulher clara de
cabelos compridos e lisos, magra e bonita. Era uma mulher jibóia que vinha
atrás da anata. Ela subiu pra terra, abraçou e beijou a anta (awa). A anta
transou com a mulher jibóia.
O homem da tocaia viu o segredo da anta ou awa e somente observando, apaixonou-se
pela mulher encantada.
A anta (awa) terminou de fazer amor com ela e combinou para se encontrarem na
outra semana. O homem dentro da tocaia ouviu a conversa dos dois. A awa foi
embora e a mulher sumiu para dentro do lago. O homem pensou.
Saiu de dentro da tocaia fazendo do mesmo jeito que a awa fez: pegou três frutas de
jenipapo, jogou do jeito que ele viu. Demorou pouco tempo e começou a sair
espuma, saiu do mesmo jeito, a mulher muito bonita (hadua).
Ela chegou à beira do rio e procurou o homem que a chamou.
_
Onde você está escondido? Saia logo.
O homem da tocaia fez isso, ficou escondido e respondeu:
-
Eu estou aqui esperando você
Ela subiu para a terra e encontrou o homem sentado. Ela chegou perto dele e
perguntou:
_
Quem me chamou?
O homem respondeu:
_
Fui eu. Estou chamando poruqe estava caçando, encontrei jenipapo na beira do meu caminho, vi anta e veado comendo muitas frutas de jenipapo. Fiz tocaia pra ficar esperando veado e anta.
A anta chegou e fez mágica no lago. Saiu uma mulher muito linda, eles tiveram
relação, vi de dentro da minha tocaia. Quando foram embora, a anta e a mulher,
fiquei apaixonado pela mulher. Fiz amesma coisa que a anta fez.
O homem falou assim com ela. Ela achou graça e respondeu pra ele:
_
Eu sou mulher, mas não sou daqui, eu moro muito longe. Faz tempo que tu estás
aqui?
Ele respondeu:
_
Faz horas. E eu vi tudo como a anta fez com a mulher.
A mulher perguntou:
Tu tem mulher?
O homem respondeu
_
Eu tenho. E você tem marido?
Ela falou:
_
Somente tenho namorado
_
Então vamos txuta?
Ela aceitou. O homem txutou. Ela gostou muito de fazer amor. Depois disso a mulher
não quiz mais deixá-lo. Ela o convidou pra morarem juntos. O homem aceitou.
A mulher pegou remédio, botou remédio no olho
do índio, já encantado com ela. Ele foi com ela pra terra da jibóia debaixo da
água, para outro mundo, virou encanto de jibóia.
Chegou a sua casa, entrou no quarto e ficou dentro do seu quarto.
Ela falou assim pra ele:
_
Eu vou avisar para o meu pai e a minha mãe.
Foi e avisou assim:
_
Eu já consegui marido.
Os parentes dela gostaram dele. Ele morou com ela 12 anos, fez três filhos
jibóias, dois homens e uma mulher.
Um dai a mulher jibóia começou a preparar o cipó para tomar com o seu povo.
Quando estava tirando muito cipó e fazendo o preparo, o marido chegou, e perguntou:
_
O que é isto?
A mulher dele explicou:
_
Esse é cipó Huni Pae. Estou fazendo chá para beber e ver coisa bonita. Ele
ficou animado e disse:
_
Então eu vou tomar também.
A mulher disse que não podia beber.
_
Você é uma pessoa nova que está conhecendo agora, então você não pode tomar com
a gente.
O homem teimou e tomou o cipó preparado. A mulher, o sogro e a sogra tomaram e
veio amiração muito forte, apresentando muita luz forte.
O homem não aguentou, quando a mulher começou a cantar, a sogra e o sogro estavam
cantando também. Ele começou a gritar, pensando que não retornaria mais, estava
vendo na miração que seu sogro o estava engolindo, ele se viu dentro da jibóia.
Quando a pressão foi embora o homem parou de gritar, mas quando estava gritando contou
sobre sua vida. Euando estava dentro da jibóia descobriu que a mulher dele era
uma jibóia. Até então ele não sabia que estava encantado.
Todos da família da mulher ficaram desconfiados, não estavam mais gostando dele. O
índio ficou ntodo triste e desconfiado, se fechou com ele mesmo. Ficou pensando
que estava perdido morando muito longe de sua família antiga. Não tinha nenhuma
idéia para voltar pra sua família.
Até que um dia chegou uma mulher bem morena. O homem estava sentado lá fora
pensando, a mulher passou perto dele. E falou:
_
O que você está pensando homem?
O homem respondeu:
_
A minha mulher não quer mais morar comigo.
A mulher respondeu:
_
Tá muito fácil, meu nome é Ixke, moro perto da sua família, que você deixou.
Está vendo o meu cabelo todo assanhado? É por causa de você, que deixou sua
família. Estão todos passando mal, eles queriam me pegar e puxaram o meu
cabelo. Melhor tu ir embora, não deve morar mais aqui, a tua mulher jibóia está
aprontando para te matar.
O índio falou com Ixke:
_
Como posso voltar?
_
É muito fácil. É assim: vai pegando o igarapé, subindo até a cabeceira, e lá
vai encontrar raiz de paxiúba, onde está pingando água. Tu sais, vais embora.
Ixke explicou para ele.
No outro dia o índio foi caçar, falou pra mulher assim:
_
Eu vou caçar e volto aqui.
Ele saiu bem cedinho, pegou o igarapé, foi subindo até encontrar Ixke e encontrou a
raiz de paxiúba, boiou perto da sua casa deste lado do mundo.
Encontrou um parente dele, ficou na casa do cunhado antigo. Contou a sua história com a
mulher jibóia. O homem passou um tempo morando com seu cunhado.
Os três filhos que teve com a mulher jibóia estavam muito preocupados procurando o
pai.
Deste lado do mundo, ele foi caçar de novo na beira do igarapé, então encontrou o seu
filho mais novo. O filho jibóia vendo que encontrou o pai dele, chamou o outro irmão, a irmã e a
mãe.
O filho que encontrou o pai, logo engoliu o dedo do pé, o filho jibóia gritou
assim:
_
siri siri siri
Veio
o outro filho mais velho e engoliu até a coxa. Veio o outro filho mais novo e
engoliu até a cintura.
O
homem começou a gritar chamando seus outros parentes do mundo de cá:
_
Venham meus parentes, As jib’loias estão me en golindo.
Gritou
para os outros parentes escutarem. O parente escutou, veio na carriera e
encontrou o homem com a cintura sendo engolido pela parenta jibóia. Com os
outros parentes conseguiram tirar ele.
O
homem ficou com o corpo todo mole, ficou na rede, estava doente, falou para seu
cunhado:
_
quando eu morrer me enterra, passando seis meses pode me procurar na miha
sepultura. Na parte da direita vou virar cipó, na parte da esquerda vou virar
rainha. Tira o cipó, corta uma palma de comprido, bate com um pedaço de pau,
tira a casca, bota água junto com a folha, pode cozinhar e depois cantando, eu
fico dentro do cipó explicando pra você.
Foi explicando pro cunhado dele enquanto morria. Enterraram, passou seis meses, o
cunhado dele fooi visitar a sepultura e já tinha nascido o cipó e a rainha.
Tirou os dois juntos. Fez como ele havia explicado.
Fez o cipó, tomou, veio a miração, teve muitas explicações, mostrando o futuro,
presente, passado. É verdade, do homem surgiu o cipó. É essa a nossa
história.”


Sobre o povo Huni Kuin
O Povo Huni Kuin, que significa “povo verdadeiro”, como se auto-denominam vivem na Floresta Amazônica desde o Peru até o Acre. Mais conhecidos como Kaxinawá, falam a língua Hatxa Kuin, da família linguística Pano. Com a população de aproximadamente 7000 indivíduos do lado do Brasil, no Acre, constituem o povo nativo mais numeroso do estado. São 61 aldeias de 12 terras indígenas ao longos dos rios: Purus, Juruá, Envira, Muru, Humaitá, Taraucá, Jordão e Breu.
Em 1898 após os primeiros contatos com o povo da cidade, começou o massacre dizimando parte do povo e escravizando outra parte. Hoje, conseguiram superar há muito a dominação e são
organizados internamente através de liderança política, professores bilingues, agentes de saúde, agentes agroflorestais, pajés, parteiras, mestra e artistas.
Possuem uma associação que se preocupa em desenvolver a comunidade e estabelecer uma parceria com a cidade. (MANÁ, J. – Nuku Kenu Xarabu,
apresentação)
Seus rituais, danças, artes e pajelança tem a ver com os ensinamentos da jibóia, considerada a deusa e o deus do povo Huni Kuin.
“A jibóia é o deus e a deusa da floresta, é o encanto da floresta, é um símbolo sagrado do nosso povo.” – Fabiano Txana Bane Huni Kuin